Mensagem de Páscoa de D. António
Francisco, Bispo de Aveiro
“Este é o dia do Senhor: alegremo-nos Nele” (Sal 118)
1. A mais bela de todas as manhãs
– a manhã de Páscoa – não começou com capas estendidas pelo chão da vida, com
hossanas de multidões em alegria e em festa nem, tão pouco, com o testemunho
corajoso e feliz dos discípulos.
Como estava já longe da memória do povo
e distante do coração dos discípulos a entrada de Jesus na sua cidade! A cruz e
a morte tinham dispersado as multidões e o medo tinha-se apoderado dos mais
próximos.
A manhã de Páscoa começou com uma estranha e singela palavra,
cheia de compaixão por parte de Jesus diante da tristeza preocupada de Maria, a
mulher perdoada, que viu o sepulcro vazio: «Mulher, porque choras?» (Jo
20, 15).
O primeiro gesto de Jesus ressuscitado e a sua primeira
palavra, depois da ressurreição, é consolar; é olhar o nosso olhar; é chamar
pelo nosso nome. Um dia, tempo virá, em que «Deus enxugará, também, todas as
lágrimas dos nossos olhos!» (Apoc 21, 4).
Neste tempo de crise de
civilização, o mundo precisa da Páscoa de Jesus, para aprender a dar a vida por
amor e nessa dádiva divina encontrar uma palavra que afague tantos dramas, um
olhar que dê luz a tantos olhares que as lágrimas turbam e o pecado magoa e uma
vida que alimente de nova e renascida esperança tantas vidas sem sentido, sem
pão, sem trabalho, sem horizonte e sem rumo.
Que também nestes tempos de
imperativa austeridade e de desiguais sacrifícios lembremos o sábio conselho
afirmado em cada Páscoa judaica: «em tempos de opressão, não falte ao povo a
esperança da liberdade! Em tempos de liberdade, não se lhe apague a lembrança da
escravidão!» (Seder judaico).
Depois da manhã de Páscoa, Jesus
chamou, ao longo da história da Igreja, milhares e milhares de pessoas pelo seu
nome. A todos os que chamou, também enviou em missão para transmitir a Boa Nova
das bem-aventuranças. A Páscoa é a festa de todos e para todos!
2.A
ressurreição de Jesus é porta de tempos novos e aurora de vitória e alegria
pascal. Deste triunfo de Jesus Cristo sobre o pecado e sobre a morte, os
apóstolos, refeitos do medo inicial, dão-nos testemunho vivo. A vida cristã
nasce deste acontecimento sempre novo e desta inabalável certeza: «Foi este
Jesus que Deus ressuscitou, e disto nós somos testemunhas» (At 2, 32).
Aí, na Páscoa de Jesus, inicia-se o tempo da Igreja e todos nós daí
partimos em caminhada pascal, apoiados pelo testemunho daqueles que viram e
acreditaram. E a exemplo dos discípulos, tornamo-nos, também nós, sinais vivos
deste mesmo poder da ressurreição que Deus coloca em acção na Igreja.
Os
cinquenta dias que prolongam, na liturgia da Igreja, a Páscoa e dela fazem uma
festa ininterrupta são dados aos cristãos para renovar as suas vidas e
fortalecer a sua fé na ressurreição de Jesus, de Quem são chamados a ser
testemunhas.
3. Vamos viver, na diocese de Aveiro, este tempo pascal em
Caminhada de itinerário pastoral com as famílias para que, com a força da
vida, do amor e da fé nascida da Páscoa, as famílias da diocese se reconheçam no
seu melhor e se valorizem no testemunho e na missão.
Importa que cada
família sinta o seu amor vivificado pela palavra de Deus, iluminado pela palavra
da Igreja e alimentado pela palavra da vida. Sabemos bem quanto a família é para
cada um de nós um dom como berço da vida, comunidade de amor, escola da fé e
santuário da presença e da acção de Deus.
É nesta Igreja diocesana,
fraternidade de famílias, que vemos confirmar a esperança, para que se
concretize em cada comunidade cristã este modo de sermos família de famílias e
se ajude cada família a ser evangelizadora no mundo.
Com este espírito
pascal e nesta caminhada familiar tem renovado sentido fazer da Páscoa,
prolongada celebração festiva em cada família ao longo de todo o tempo pascal, e
viver, com acrescida alegria, os momentos maiores deste tempo como sejam a
instituição de ministérios de Leitores e Acólitos a caminho do Presbiterado, a
Semana das vocações, tantos outros sinais visíveis do amor de Deus por nós e de
interpelação para o nosso modo de acolher os chamamentos por Deus semeados no
campo fecundo das famílias de Aveiro, a merecer resposta pronta e acrescida
generosidade.
No horizonte deste criativo modo de caminhar em família e
com as famílias e quase já no culminar do tempo pascal viveremos todos com
alegria e entusiasmo, como Igreja diocesana, a Festa das Famílias , no
dia 20 de Maio, no Colégio de Calvão, em Vagos.
Votos de feliz Páscoa,
assim continuada em todo o tempo pascal e assim vivida em família e em Igreja,
com fermento novo de um mundo melhor e com anúncio festivo e próximo de uma
Igreja em Missão Jubilar!
Aveiro, 3 de Abril de 2012
António
Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro
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